- Alderan, estamos entrando no setor do planeta Metalha!
- Sion, todas as equipes a seus postos! Preparem-se para acionar a abertura do portal interdimensional!
- Crodon! Sintonizar portal na décima terceira dimensão física! Eu estava olhando para a tela interdimensional onde, de repente, apareceu a imagem do planeta Metalha. Senti uma profunda saudade dos amigos que ali deixei mas, ao mesmo tempo, estava feliz por poder reencontrá-los. O planeta continuava belo como sempre, em sua cor dourada, tendo à sua volta uma suave aura brilhante. Diante da nave começou a se formar um túnel espiralado e foi iniciada a travessia do portal. Toda a Unidade já estava habituada às passagens dimensionais. Entretanto, esta era especial pois, desde que partimos de Metalha em missão, passaram-se quinhentos anos-Terra. No centro de controle da nave, assisti à conclusão da travessia dimensional através da tela visual. Perguntei a Sion que distância nos separava de Metalha e imediatamente obtive a resposta: estávamos perto da atmosfera e era necessário que eu tomasse algumas providências para o pouso.
Chamei telepaticamente os líderes de equipe, os quais chegaram ao centro de controle em alguns instantes. Eram eles: Miria, Sion, Solron, Calia, Crodon, Poderon, Uria, Rairon e Leon. Recebi os relatórios correspondentes a suas equipes e informei a todos que tais dados seriam analisados para, posteriormente, serem apresentados ao Conselho Planetário que por sua vez, iria avaliar a capacidade de cada componente da Unidade para uma nova missão. Pedi a Solron que acionasse o comunicador através do qual faríamos contato com Metalha.
- Afirmativo, Alderan. Canais abertos. -Planeta Metalha, quem fala é Alderan, do Cruzador Interdimensional Triton. Peço permissão para pouso.
- Cruzador Triton, permissão concedida para pouso na base Talha-1. Comecei a lembrar o quanto foi dura e difícil a missão mas, felizmente, estava prestes a pousar no planeta com o qual criei tantos laços de afinidade. A colossal nave prateada aproximava-se da superfície de Metalha. Contemplei, através do monitor visual, uma deslumbrante paisagem que enchia de alegria os meus olhos cor de prata. Meu desejo era sobrevoar as cidades, os campos enfeitados com lagos de esplendorosa beleza, as montanhas de cristais dourados cujo brilho intenso fazia com que Metalha parecesse um sol. Tal vontade teria que esperar pois, neste caso, se fazia necessária uma nave menor que o Cruzador. Foi iniciada a aproximação com a base, localizada no alto de um imenso plator, às margens de um mar sereno. De repente, o comunicador sinalizou. Era uma transmissão da base, prontamente atendida : -Cruzador Triton, aqui é base Talha-1. Rampa dez liberada para pouso. Solicitei a Crodon que desligasse o campo eletromagnético e acionasse o sistema de pouso.
A gigantesca nave aterrisou com a suavidade de uma pluma. Fiquei muito feliz por estarmos em terra firme. Após tanto tempo no espaço sideral, ansiávamos por desfrutar as belezas de Metalha. Telepaticamente comuniquei à Unidade para que todos se reunissem no pátio de conferência da nave para onde, em seguida, teleportei-me. Assim que cheguei, encontrei parte da unidade e, tão logo constatei a presença de todos, comecei minha explanação: - Após quinhentos anos como defensores das fronteiras dimensionais nos universos mais densos, cada um aqui presente sabe o que enfrentamos no cumprimento desta missão, da qual saímos vitoriosos sem nenhuma baixa. Sinto-me honrado em trabalhar com todos vocês, tamanha a união e os impressionantes resultados obtidos em todas as áreas. Foi como se fizéssemos parte uns dos outros. Um representante do Conselho Planetário, através do comunicador, avisou-nos que o Embaixador de Metalha estava aguardando a Unidade no salão do Conselho. Alertei a todos que iríamos apresentar ao Embaixador os resultados da missão. Após alguns instantes, adentrávamos o salão, cuja forte característica era a belíssima e arrojada arquitetura. O chão dourado como ouro polido refletia em si o brilho reluzente das armaduras espelhadas de prata, traço marcante e inconfudível da Unidade. Entramos pela larga porta em fila única. A estatura média dos integrantes era de, aproximadamente, três metros.
O impacto das botas metálicas dos cento e dez componentes produzia um conjunto de sons estridentes, formando uma orquestra cujo som ecoava pelo amplo salão. As paredes e o teto eram dourados, esculturas geométricas posicionavam-se em locais de destaque. Um pouco abaixo do teto havia diversos sóis. Alguns dourados, outros prateados. Uns pairavam no ar, enquanto outros transitavam. Fomos em direção ao fundo do salão, onde éramos esperados. Lá chegando, ficamos dispostos em dez filas paralelas. Dentre os sóis dourados que estavam flutuando, um desceu ao chão e começou a tomar outra forma.
À medida em que seu brilho intenso se apagava, um corpo humanóide foi aparecendo. Era dourado muito claro, quase branco. Tinha cerca de três metros de altura e o corpo envolvido por uma espessa aura luminosa. A cabeça era um pouco grande em relação ao corpo. Olhos grandes e prateados. Não possuía boca, nariz, orelhas ou cabelo. Aproximei-me dele, dizendo: - Comandante-Embaixador Ashtar, Unidade Prata se apresentando. Naquele exato momento, todos os capacetes das armaduras desmaterializaram-se, colocando à mostra as faces de todos. Ashtar, em passos lentos, percorreu cada fileira, examinando com seu poder mental cada um dos membros da Unidade. Concluída a vistoria, voltou-se para mim, dizendo: - Pelo que pude notar, Alderan, a Unidade Prata está em perfeita forma.
Não houve nenhuma avaria séria. Entreguei os relatórios para que ele analisasse e, assim, a Unidade foi dispensada. Saímos da mesma forma que entramos. Todos estavam ansiosos para reencontrar os amigos ou voltar às instalações anteriores. Contudo, ainda era preciso fazer certas coisas antes de distrair-me. Retornei ao Cruzador com alguns membros da tripulação para que parte do equipamento danificado em missão fosse descarregado. Sion acompanhou-me até o compartimento de carga do Cruzador, onde estavam guardados cinco mil andróides de modelos diversos e funções variadas. Todos estavam desativados.
Olhando atentamente as caixas que os embalavam, disse a Sion: - O que seria de nós se não pudéssemos contar com a ajuda destas máquinas nas batalhas contra os exércitos negativos? Concordando, ele balançou a cabeça e completou: - Infelizmente a maioria está estragada, de tal maneira, que até mesmo os chips de personalidade e memória foram destruídos. Em seguida, alguns andróides de múltiplas funções foram ativados para que fizessem o transporte do equipamento. Foi aberta uma das portas do compartimento de carga e, através dela, começaram a sair os veículos cargueiros de flutuação magnética. Assemelhavam-se, em sua forma, aos ônibus da Terra, embora não possuíssem rodas ou janelas. Seu tamanho era de, aproximadamente, cem metros de comprimento por trinta metros de largura e vinte de altura.
Uma porta na parte traseira servia para carga e descarga. Em cada lateral dianteira havia uma porta, usada para entrada dos passageiros e operadores. Todos os veículos estavam sendo pilotados por andróides. Observando o painel, avistei três telas visuais. Na tela central via-se a divisão de seis quadros, os quais mostravam paisagens de múltiplas direções. Nas duas telas laterais eram apresentados os mapas da geografia planetária e a localização da nave. Partimos em direção ao Centro de Tecnologia Planetária, situado no alto de uma montanha rochosa chamada Zuilis. Avistei a montanha Zuilis através do mapa na tela gráfica. Consultando o cronômetro, percebi que faltavam apenas dois minutos para o pouso. Pensativo, rapidamente procurei imaginar como estaria meu laboratório após tão prolongada ausência. Era muita a saudade que sentia dos meus ex-alunos e dos conclaves com os colegas cientistas. Muitos deles serviram como voluntários em missões fora deste Universo e ainda não haviam regressado. Meus pensamentos foram interrompidos pela voz metálica do piloto andróide, avisando-me que estávamos prestes a pousar.
O comunicador visual foi ligado e, na pequena tela do painel, surgiu a imagem de um rosto conhecido, que há bastante tempo não via. - Quilia, peço permissão para desembarque da frota de cargueiros do Cruzador Triton. Ela respondeu-me: - Seja bem-vindo, Alderan. Portão de desembarque aberto para pouso. Você será recebido por Raman. A imagem desapareceu mas, em mim, a felicidade tornava-se cada vez mais presente, pois chegava o momento de rever pessoas tão queridas e amadas. Após nosso pouso, os veículos da frota foram descendo um a um. Abri a porta da nave e flutuei até o chão.
Percorrendo todo o ambiente com os olhos, reconheci o amigo Raman. Abraçamo-nos, dizendo o quanto era bom o reencontro após tanto tempo. - Como está você, Alderan? - Muito bem, meu amigo. - Fiquei sabendo que sua nave havia chegado da missão. Calculei que este seria um dos primeiros lugares visitados por você. Por isso, fiz questão de fazer a recepção, para colocá-lo a par dos acontecimentos planetários. - Sim, Raman. Também tenho informações das experiências e pesquisas realizadas durante a missão. Andamos até um pequeno veículo de dois lugares, cujos controles foram assumidos por Raman. Em Metalha, este veículo funcionava por flutuação magnética e teleportação. No caminho para o setor de laboratórios, deparamo-nos com uma porta branca. Com nossa aproximação, ela se abriu.
Descemos do pequeno aparelho e entramos em meu laboratório. Lá estavam vinte ex-alunos de um curso que ministrei há quinhentos e cinqüenta anos. Assim que notaram a minha presença, o silêncio tomou conta do ambiente. Um deles veio em minha direção e logo foi seguido pelos demais. Abracei a todos com ternura e carinho. Pelo que pude notar, a pequena equipe tinha uma líder - Drilha - que, após os cumprimentos, dirigiu-se a mim: - Alderan! Quando você partiu em missão, eu era recém-formada em engenharia cibernética e eletrônica espacial. Saí da faculdade com um projeto: desenvolver novos equipamentos que pudessem ser úteis aos defensores dimensionais. Munida de minhas credenciais, procurei o comandante Ashtar e coloquei-o a par do referido projeto que, de imediato, foi aceito. Ashtar deixou a cargo de Raman providenciar as instalações e o material necessário à execução do meu trabalho.
Fui informada por Raman que seu laboratório estava desativado e que você havia saído em missão. Meu pedido para a utilização destas instalações foi aprovado pelo próprio Raman e, assim, o projeto foi iniciado.
Terminado o relato de Drilha, pude expressar-me: - Estou muito satisfeito em saber que o laboratório ficou em suas mãos. Preciso sair com Raman agora, mas depois quero propor algo a você. Silencioso e pensativo, saí em companhia de Raman que, mais adiante, questionou-me: - Você está ciente dos planos da Federação Inter-Galáctica, Alderan? - Sim. Durante a missão, percorremos as bases especiais de várias galáxias. - Também foi informado da grande transição dos universos? - perguntou. - Afirmativo. Este foi o motivo pelo qual retornamos da missão. Conversamos durante um longo tempo e Raman explicou-me que o Conselho de Metalha enviaria a frota de cruzadores do Comando Ashtar para o sistema solar da Terra. Despedi-me de Raman, agradecendo-lhe as informações prestadas.
Olhando o firmamento dourado, pude contemplar a beleza de naves grandes e pequenas que cruzavam o céu, deixando rastros de luz no que parecia um oceano de estrelas faiscantes. Ondas de energias revitalizadoras caíam da atmosfera. Avistei um brilho prateado que, ao se aproximar, pude identificar como a nave que estava aguardando. A nave alcançou o chão com a leveza de um pequeno pássaro. Lembrei-me, com toda nitidez, do tempo e do esforço necessários para que minha equipe de cientistas, em laboratórios, pudesse projetar um modelo de nave que tornou-se uma obra-prima da engenharia geométrica.
Os inúmeros e complexos cálculos não foram em vão, pois sabíamos o quanto este veículo, por sua eficiência, nos era útil. Caminhei até a frente da nave, onde ficava uma das muitas portas, camufladas estrategicamente ao longo dos seus cinqüenta metros de comprimento. A lataria era totalmente blindada, embora algumas partes pudessem ficar transparentes, de acordo com a vontade do piloto. A porta dianteira foi aberta. Nos controles, estava Miria, que alegremente perguntou-me: - Você quer uma carona? Embarquei sem hesitar, falando descontraído: - Já faz um bom tempo que não piloto esta nave! Ela possuía sensores de leitura mental. Isso fazia com que o controle da nave fosse feito por telepatia. Observava o mostrador do painel enquanto a nave decolava em direção a uma parte pouco habitada do planeta, onde havia uma paisagem exuberante. Notei a felicidade de Miria por ter voltado à Metalha, lugar que nos era muito querido, além de ser o planeta em que nascemos. Ficamos conversando sobre assuntos simples, tais como as belezas naturais das áreas que sobrevoávamos. Recordamos nosso nascimento em Metalha, há cinco mil anos, logo após termos chegado com o corpo astral do planeta Icron, local de nossa vida física anterior. Miria também lembrou que, ao chegarmos a Metalha, entramos em contato com o Conselho Planetário, para que este possibilitasse a materialização de nossos corpos. Em Metalha, o nascimento dos seres é feito através de materialização ectoplasmática, tornando desnecessária a presença de progenitores.
Os recém-nascidos possuem consciência de adulto, juntamente com a memória de vidas anteriores. O tempo médio de vida para os corpos nascidos em Metalha equivale a dez ou onze mil anos terrestres. Os corpos são ectoplasmáticos de cor dourada ou prateada, dividindo-se em vários tons que mudam de cor conforme o nível de evolução espiritual. Cada corpo oriundo de Metalha tem, entre outras capacidades, a de tomar a forma e a composição molecular que desejar. Tais transformações são empregadas apenas quando há real necessidade. A forma de comunicação utilizada é a telepatia e os olhos enxergam por meio de clarividência, o que viabiliza o acesso simultâneo a várias dimensões e localidades. Os meios de locomoção corporal são a flutuação magnética e a teleportação.
A alimentação é feita por absorção corporal de energia cósmica. Em função do avanço tecnológico, a população prefere fazer uso de aparelhos, para que não haja um excessivo desgaste das energias corporais. Comentei: - Realmente, Miria. Em comparação a outros planetas, nossa evolução aconteceu de forma muito rápida com o corpo de Metalha. Além disso, contamos com o fato de podermos nos desligar momentaneamente deste corpo e assumir outro, em outro planeta. Saímos da nave deslizando suavemente e percorremos as vastas planícies douradas. As flores exalavam um aroma inebriante. Voávamos de mãos dadas, em uma comunhão de sentimentos que fortificava nossas energias. Como uma música, o som da voz de Miria soou em minha mente: - Alderan! Veja aquele vale atrás das colinas flamejantes! Existe um lago onde costumava banhar-me, antes de nossa partida para fora do planeta. Vamos até lá? - Respondi que sim. Alçamos vôo rumo às colinas. Ao avistar o vale, contemplei um vasto espaço líquido. O lago mostrava uma beleza imensa. Soltamos as mãos e voamos tão próximos ao lago que, tocando suavemente a água com a ponta dos dedos, produzimos um rastro de faíscas douradas e prateadas. Miria mergulhou em suas águas brilhantes e eu a segui.
O comunicador sinalizou. Era Sion, informando que Ashtar concluíra a análise dos relatórios da missão e estava nos aguardando em sua nave, para discutirmos os resultados. Estando fora da água, chamamos a nave pelo controle automático e, em poucos segundos, ela pairou acima de nossas cabeças. As portas se abriram com nossa presença, e Miria assumiu os controles. Velozmente, a nave atravessou o firmamento e saímos da atmosfera. Avistamos, ao longe, a brilhante nave-mãe, comandada por Ashtar. Era tão grande que não podia aproximar-se muito do planeta, a fim de não perturbar o equilíbrio gravitacional. Informei-lhes sobre nossa aproximação: - Alderan falando. Peço permissão para pouso. - Afirmativo. Concedida permissão para pouso na rampa número 1.500, setor noroeste. Miria ajustou as coordenadas ao computador de bordo e, após alguns instantes, estávamos pousando.
Saímos da nave e trocamos nossos trajes , sendo que iríamos a uma conferência formal com os comandantes que integram o Comando Ashtar. Eu sabia que os líderes da Unidade também tinham sido comunicados. Percorremos um longo corredor, num veículo utilizado para transporte interno. De fato a nave-mãe poderia ser comparada, em suas proporções, a um planeta. Enfim chegamos ao local da reunião, onde poltronas estavam organizadas em forma de meia-lua. Ao notar que os líderes de equipes da Unidade Prata estavam aglomerados em determinadas poltronas, fui em direção a eles. Após cumprimentá-los, sentei-me. Ashtar estava no palanque e parecia aguardar a chegada de outras unidades. Olhei ao meu redor e notei a presença de vários comandantes de nave, cuja maioria eu conhecia. Assim que se completou o Comando, foi iniciada a explanação de Ashtar: - Como foi informado ao governo de Metalha, ocorrerá em breve a transição dos universos dimensionais. Em função deste avanço dimensional, as leis da natureza serão alteradas. Detendo a atenção de todos, continuou: - Estas modificações impossibilitam a permanência de determinados seres em seus planetas, pois não suportarão as vibrações eletromagnéticas advindas da sutilização dimensional. - Para evitar que seus corpos astrais mais densos sejam expostos a tais radiações, provocando terríveis traumas psico-mentais (o que atrasaria muito o ritmo de suas evoluções), precisaremos efetuar as transmigrações planetárias. Desta forma, poderá ser mantida a harmonia na evolução dos seres.
Olhando fixamente para Ashtar e inebriado com suas palavras, meditei profundamente sobre a importância dos acontecimentos narrados por ele. Durante toda a exposição dos fatos vindouros, meu pensamento girava em torno de qual seria a tarefa da Unidade nas transmigrações. Terminada a palestra, nossa unidade foi convidada pelo Conselho Planetário a formular, com eles, os planos de ação da Unidade Prata.
A reunião seria feita em um salão que ficava próximo do auditório em que estávamos. Andamos por um largo corredor cujo piso, paredes e teto eram de cor cinza-chumbo. Em uma das laterais surgiu uma porta, que fechou-se automaticamente ao passarmos por ela. Sentamo-nos em poltronas brancas, organizadas em forma de círculo. Ashtar, que já estava nos aguardando, disse: - O Conselho analisou os relatórios da Unidade. Todos ficamos satisfeitos com os resultados. Temos funções para sua Unidade na grande missão, Alderan. Porém será necessária uma série de modificações e a primeira delas é aumentar o número de integrantes da Unidade. Transbordei de felicidade ao receber aquele convite. Notei que Miria, assim como os líderes de equipe, demonstravam seu contentamento. Escutamos as diretrizes passadas por Ashtar e membros do Conselho. A reunião havia acabado. Sion parecia bastante animado com o planejamento da nossa nova missão. Seguimos para a rampa de decolagem, onde duas naves do Cruzador estavam à nossa espera. Entramos na atmosfera de Metalha e fomos em direção ao espaçoporto, onde estava o Cruzador. Fizemos a aproximação e foi aberta uma das rampas de pouso.
Descemos da nave e fomos direto para a ponte de controle. Lá chegando, liguei o comunicador: - Drilha, aqui é Alderan. Peço que venha ao Cruzador, pois temos assuntos importantes a tratar. Mais tarde, avistei no monitor uma pequena nave. Reconheci nela a insígnea do Centro Tecnológico Planetário. Drilha chegou à ponte de controle. Aproximei-me dela, dizendo que se tratava de um convite. Expliquei que teríamos uma nova missão e, em função da envergadura da tarefa, era preciso aumentar o número de integrantes da Unidade. Drilha aceitou o convite. Tínhamos um prazo de dez anos para estarmos com a Unidade Prata pronta para partir em missão, mas bem antes disso conseguimos completar os cinco mil integrantes.
O dia da partida finalmente havia chegado. Era enorme o meu contentamento em ver a conclusão do treinamento das novas equipes da unidade. O céu de Metalha mostrava um enxame de cruzadores e algumas estações orbitais. Recebi as ordens de Ashtar para partirmos rumo à Terra. Entretanto, precisaríamos passar pelo planeta Icron, em Orion. Lá, os membros da tripulação que possuíam o corpo de Metalha teriam de trocar temporariamente de corpo, para poderem entrar no setor do planeta Terra. Eu também fazia parte deste grupo.
O Cruzador decolou da base Talha-1, cruzando um céu cheio de naves e entrando no espaço sideral. Na passagem pelo planeta Icron e, após a troca de corpos físicos, passamos para a décima dimensão física. Constatamos que algumas de nossas habilidades corporais haviam sido bloqueadas. Após algum tempo no espaço, entramos no sistema solar da Terra. Paramos em Júpiter, a fim de conferenciarmos com o Conselho Solar a respeito de nossa participação na missão Terra. Chegamos ao planeta Terra no início do Século XVII. Seria necessário que parte da Unidade ingressasse na terceira dimensão física. No próprio Cruzador encontravam-se as câmaras de animação suspensa, onde nossos corpos ficariam guardados. Estando lá, abri a tampa de cristal e deitei-me, fechando-a. Escutei uma pequena explosão e desmaiei, ofuscado por uma luz forte. Quando acordei, percebi que acabara de nascer em um corpo da Terra, no ano de 1971. Chorei em um corpo de bebê. As pessoas ali presentes sequer desconfiavam que naquele choro havia uma certa tristeza, por me encontrar naquele corpo primitivo e cheio de limitações. Minha nova vida na Terra seria dura e cheia de sacrifícios mas, acima de tudo, eu tinha uma missão a cumprir, custasse o que custasse. A maior parte da missão seria realizada durante minhas saídas para fora do corpo, e a outra parte no plano físico. Antes que eu nascesse, recebi informações de que seres negativos tentariam provocar a morte de meu corpo físico, mas a Unidade estaria fazendo a minha segurança. Mesmo assim eu não tinha garantia total de vida, pois o plano físico, na terceira dimensão da Terra, ainda estava sendo controlado pelas trevas. De início, meu corpo físico apresentou uma forte incompatibilidade com a vibração de meu corpo astral. Isto levou a um princípio de rejeição que, se não fosse revertido, provocaria minha morte. Durante dias e noites eu não parava de chorar e recusava-me terminantemente a sorver o leite materno, o que provocava preocupação em meus pais. Era uma tortura ficar dentro de um corpo apertado, que me sufocava sem piedade, como se fosse feito de concreto e não obedecesse ao meu comando. Os dias foram passando e eu entrava em um estado crítico, o qual necessitava urgente de uma solução, pois minha vida corria perigo.
Os cientistas da Unidade apresentaram uma alternativa: era preciso provocar a queda vibracional do corpo energético, para que este ficasse mais denso e entrasse em sintonia com a densidade do corpo físico. Entretanto, tal densificação provocaria um atraso do despertar da memória imortal. Sendo a única solução encontrada, comecei a ser submetido a sessões de densificação vibracional, nas vezes em que saía do corpo físico através do sono. A densificação limitava ainda mais a minha consciência, afastando-me dias, meses, e até anos do despertar da consciência imortal. O processo estava dando certo, mas ainda não tinha sido suficiente para fazer a sintonia total com o corpo físico. Era preciso fazer algo mais. Certo dia, um dos cientistas da equipe encarregada do projeto andava por uma fazenda vizinha da que eu morava. Trajava um macacão de cor prateada. Ele passou por um curral cheio de cabras e ficou encostado na cerca de madeira escura, envelhecida pelo tempo, observando um trabalhador rural que ordenhava uma cabra. Tanto o ordenhador quanto os animais ali presentes não percebiam a presença do cientista extraterrestre, pois este se encontrava em outra dimensão, tornando-o invisível a olhos comuns. O cientista aproximou-se do balde que estava recebendo o leite.
Olhou atentamente aquele líquido branco, espumando a cada jato extraído do animal pelas mãos habilidosas do ordenhador. Sua curiosidade fez com que apanhasse um pequeno aparelho que estava preso a seu cinto. Este aparelho continha uma tela de imagens coloridas. Apontou-o, então, para o leite e examinou a densidade do código genético. Registrada a freqüência dimensional, o cientista chegou à seguinte conclusão: bastava que eu ingerisse aquele leite para entrar na freqüência do corpo físico e assim, o problema estaria resolvido. Os cientistas astrais encarregados de cuidar do meu corpo inspiraram meus pais para que estes me alimentassem com leite de cabra, o que veio acontecer no dia seguinte. Eu tinha quase um ano de idade embora minha consciência estivesse entorpecida (como a de qualquer ser humano daquela idade), vasculhava, algumas vezes, na profundidade do meu ser, a fronteira do inconsciente e de lá trazia reminiscências de um passado distante. Pensava comigo mesmo: "Que mundo estranho é este em que estou?" Passaram-se os anos e eu não morava mais na fazenda.
Minha família mudava-se tanto de residência que se tornou difícil guardar as lembranças dos lugares em que morei. Mais uma vez, fixamos nova moradia, em um bairro da cidade de Goiânia. Eu completara onze anos. Estava na escola, mas os estudos não iam bem, devido aos ataques que vinha sofrendo por falanges de seres das sombras. A Unidade Prata protegia-me constantemente, mas sua ação direta era dificultada pelo fato de eu estar no plano físico e eles no plano astral. Neste ponto, as trevas levavam vantagem, pois tinham o controle do mundo físico da Terra e atuavam diretamente através de seus adeptos no plano físico. Fui atacado de diversas maneiras mas, geralmente, dava-se por meio de acidentes, doenças ou ataques fora do corpo. Nas proximidades da minha nova moradia havia um campo todo cercado de arame. Alguns dias após chegarmos de mudança, comecei a ter sonhos, e nestes sonhos eu ia até o campo e via várias naves pousando. Delas saíam seres de outros mundos. Aos dezesseis anos, mudanças estranhas começaram a acontecer com minha consciência. Tais mudanças faziam com que eu entrasse em outras realidades existenciais até que, um certo dia, ocorreu algo que mudou minha vida. Já ao cair da tarde, algo começou a acontecer. Experimentava uma sensação diferente em minha cabeça. Era um pulsar, que começou lentamente e depois foi acelerando o ritmo. As batidas eram de baixo para cima, dando a impressão de que algo iria sair pelo topo da minha cabeça. Após alguns minutos, fui envolvido por uma sonolência irresistível.
Pensei em deitar e dormir um pouco. Entrei no quarto e tranquei a porta. Abri a janela para aumentar a ventilação, pois o calor era enorme. Tirei a camisa, colocando-a em cima do meu rosto, a fim de proteger-me da luminosidade. Passaram-se alguns instantes e a sonolência acabou. Os meus pensamentos fluíam com uma facilidade incomum e produziam um som que ecoava em minha cabeça. O ecoar transformou-se em um barulho tão alto que parecia uma turbina de avião. Assustei-me e pensei em levantar, mas não consegui. Meu corpo estava totalmente entorpecido. Entrei em pânico e gritei por socorro, mas minha boca também não se movia, apesar de ter escutado o som da minha voz, que parecia vir dos meus pensamentos. Quando notei que meus gritos não chamavam a atenção de ninguém, calei-me e pensei: "Será que morri? Mas isto não é possível, minha saúde está ótima!" Juntei todas as minhas forças e, num só golpe, levantei-me. Fui surpreendido por um fenômeno que até então desconhecia.
Havia saído do corpo físico e estava flutuando logo acima dele. Maravilhado e ao mesmo tempo confuso com o que estava acontecendo, pensei: "Como pode ser? Estou fora do corpo e, tão leve, que até posso voar!" Procurei me concentrar para descer e pisar o chão. Já de pé ao lado do corpo, que dormia na cama, andei pelo quarto, tentando compreender o que se passava comigo. Notei que meu raciocínio estava bem mais rápido e minha auto-análise mais crítica. Refleti: "Isso não pode ser um sonho, é muito real. Sei quem sou, onde estou e o que faço." Olhei detalhadamente o meu quarto e notei que as paredes, como também os objetos, continuavam idênticos aos do plano físico. Uma súbita curiosidade me fez querer saber como seria o contato com alguém, estando eu fora do corpo. Fui ao encontro da porta, pensando se conseguiria abri-la com um simples esforço. Levei minha mão direita em direção à maçaneta, mas a surpresa veio quando pude observar minha mão passando através dela. Então pensei comigo mesmo: "Que fantástico! Posso passar através dos objetos físicos!" Comecei a passar através da porta, experimentando uma sensação agradabilíssima de sutilização e leveza.
Saindo do quarto, fui em direção à sala-de-estar, à procura de alguém. Escutei vozes vindas da cozinha e fui até lá. Vi meus avós e pensei: "Eles não vão acreditar no que está acontecendo comigo!" Minha avó estava de pé perto do fogão, preparando o jantar. Conversava descontraidamente com meu avô, que se encontrava sentado em uma cadeira. Chegando perto dela, disse: - Está acontecendo uma coisa muito estranha comigo. Fui dividido em dois. Existe uma outra cópia de mim, dormindo lá no quarto. Outra surpresa: Nenhum dos dois parecia notar a minha presença. Fiquei um pouco angustiado e voltei para o meu quarto onde, novamente, avistei meu corpo físico deitado na cama, inerte como uma rocha. Calculei que, se eu deitasse em cima do corpo, talvez conseguisse acordar. Após deitar-me, passaram alguns segundos e senti novamente o entorpecimento que havia me paralisado. Esforcei-me para vencer tal estágio e, finalmente, consegui acordar, todo coberto de suor. Pensativo e fascinado com a experiência, levantei da cama. Logo pensei em contar para alguém, mas depois de avaliar melhor, cheguei à conclusão de que nenhum conhecido meu acreditaria naquela história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário